Convém, aqui, fazer uma confissão. Mme. de la Calle deixou a vida na cidade. E veio viver para o campo. Mudança de ares, de vida e de mentalidade. Nova perspectiva sobre a vida.
Ao contrário do que se pensa na cidade, no campo há muita vida e muitas vidas (que no nosso linguajar que dizer, por exemplo, afazeres).
Será que Mme. de la Calle é agora provinciana? Será que Mme. de la Calle está desligada do mundo? Será que Mme. de la Calle já só pensa em couves?
Não, não e não. Mme. de la Calle tornou-se mais rural - muito rural - mas não provinciana. Prefere umas cómodas botas onde não entrem terra a uns sapatos de salto alto. A mente de Mme. de la Calle está e continua aberta ao mundo, às novidades. Precisa de internet para comunicar, como na cidade, de resto. Mme. de la Calle não ficou com cérebro de galinha, embora tenha aprendido a depená-las. E, sim, pensa em couves, mas também pensa na água que a rega e que tanta falta faz a todas as espécies que habitam a Terra. Pensa que se a vizinha lhe der uns ovos, Mme. de la Calle poderá oferecer à vizinha uma couve. Grande, já, ou várias ainda pequenas para plantar.
Mme. de la Calle aprendeu a ver as coisas com outros olhos. Aprendeu coisas novas e porventura muito mais importantes do que as que já havia aprendido na cidade.
Mme. de la Calle alterou as suas prioridades - que são as suas e de mais ninguém - que devem ser respeitadas, mesmo que não compreendidas. E ganhou o mais importante: a paz de espírito necessária para acordar todos os dias feliz.